A Unicamp



Depoimentos

Campanha do Conselho de Entidades


O Conselho de Entidades de Campinas foi fundado em março de 1955 e agregava sociedades de classe, culturais e de serviços da cidade, para debater e viabilizar soluções relativas a assuntos de interesse coletivo. Uma das primeiras resoluções do Conselho foi a retomada da Campanha Pró-Instalação de uma Faculdade de Medicina em Campinas, idealizada originalmente pelo jornalista Luso Ventura. Foi esse movimento que forçou o cumprimento, pelo executivo estadual, da lei de criação de uma universidade em Campinas. O Arquivo Central da Unicamp entrevistou personagens dessa campanha, cujos trechos podem ser consultados nos links abaixo ou no próprio Arquivo

Depoimento: Roberto Franco do Amaral

"A criação da Unicamp foi precedida por uma luta pela criação da Faculdade de Medicina de Campinas e por duas campanhas coordenadas por personalidades ilustres da cidade, mas que não encontraram o eco necessário para ir avante.

Houve várias fases. A fase da luta na Assembleia Legislativa para que os deputados também pressionassem. Houve o trabalho junto aos cursinhos de estudantes, que tiveram uma participação interessante. Ajoelhavam-se diante da Assembleia pedindo pra que os deputados encaminhassem a aspiração.

Zeferino Vaz achava que precisava descentralizar o ensino e Campinas já era um centro muito grande, próximo de São Paulo. Ele queria um centro próximo de São Paulo, com menos condições pra ser um núcleo de desenvolvimento. Seria a Faculdade de Botucatu.

E chegamos, então, a fazer a planta da Faculdade. Eu falei: "Cabe direitinho. Vamos instalar". Mas, orçamento daqui, orçamento dali e tal, não vai dar. Daí ocorreu que a Maternidade estava sendo concluída e então surgiu essa idéia. "Vamos alugar o primeiro, segundo e terceiro andares para a Faculdade de Medicina"

O primeiro edifício a ser construído foi para Anatomia e, ainda, construído às pressas para concretizar logo a transferência da Faculdade para cá. Houve até um incidente de uma queda de uma parede por causa de material de construção, que logo foi reparado. Daí se deu a instalação do Departamento de Anatomia, e depois, naturalmente, os outros de cadeiras básicas".

E a Faculdade vinha aguardando uma oportunidade. Ela mesma lutava com dificuldade para se instalar. Prédio muito rudimentar, muito provisório. Então, como pensar em institutos universitários?

Trechos do depoimento de Roberto Franco do Amaral, concedido ao Arquivo Central da Unicamp em 21 de agosto de 1996.

Depoimento: Eduardo Barros Pimentel

"O Luso Ventura através do seu jornal lançou a ideia de uma faculdade para Campinas. E o Rui de Almeida Novais, que era deputado estadual por Campinas, fez uma lei que, se não me engano, falava de uma faculdade de direito e depois transformou... quando o Luso começou a fazer a campanha para a faculdade de direito, ele mudou a lei passando para uma faculdade de medicina. E essa lei estabelecia até quem era o diretor da faculdade de medicina, que era o... Cantídio de Moura Campos.

E o Ademar de Barros então me disse: "Dr. Pimentel, está saindo no Diário Oficial de hoje a demissão do Mário Degni. O senhor tem uma indicação para o novo reitor?". Eu disse: "Olha, nem pensei nisso, mas se o senhor me der a possibilidade de eu indicar, eu vou pensar". Pensei e disse a ele, ali mesmo, eu disse: "O que o senhor acha do Zeferino Vaz?" E ele perguntou: "Mas ele aceita?" Eu disse: "Eu nem sei se ele aceita porque ele nem sabe que eu estou sugerindo!"

O professor Zeferino disse: "Bom, mas como é que eu posso aparecer em Campinas como reitor da universidade se, quando eu era diretor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, fiz campanha contra a fundação da faculdade?..."

Era persona non grata. Eu disse: "Pode ficar tranqüilo, porque eu vou dizer que fui eu que vim aqui convidar o senhor para ir para lá". E foi o que eu fiz. Eu cheguei e comuniquei que tinha convidado Zeferino e Zeferino veio para cá e foi realmente a grande... a grande alma e a grande... o grande responsável pela Unicamp de hoje. Ele nasceu para ser... nasceu para ser diretor e reitor."

O Carvalho Pinto, que era uma figura excepcional, uma das pessoas mais compostas... e vamos dizer, de um trato fino, ele nos recebia muito bem, na hora certa, na hora marcada. E ele nos disse: "Olha, Dr. Pimentel, não há lógica de nós darmos para Campinas uma faculdade de medicina quando nós temos outras faculdades que cobrem perfeitamente as necessidades educacionais. E é muito mais barato aumentar o número de vagas na Universidade de São Paulo, Sorocaba, em Ribeirão Preto..."

"Dr. Pimentel, eu vou fazer um negócio com o senhor. Eu não vou lhe dar a faculdade de medicina, mas eu lhe prometo e lhe dou uma faculdade de engenharia". Eu disse a ele: "Olha, Dr. governador, eu não estou aqui na qualidade de engenheiro e nem de diretor de indústria. Eu estou aqui como delegado de uma comunidade e a comunidade aspira por uma faculdade de medicina. Então o meu trabalho é para termos uma faculdade de medicina".

"Dr. Pimentel, decididamente eu não vou lhe dar uma faculdade de medicina, mas eu lhe dou uma universidade." E eu brinquei com ele. Eu disse: "Olha, governador, eu não reclamo. Quem pede menos e recebe mais, não tem porque porque reclamar!" ...

Então eu indiquei o Antônio Augusto de Almeida e depois corri atrás do telefone para falar com o Antonio Augusto de Almeida para que ele não viesse a saber pelos jornais que ele tinha sido escolhido o diretor da faculdade... que já estava ajustado."

Trechos do depoimento Eduardo Barros Pimentel, concedido ao Arquivo Central da Unicamp em 29 de setembro de 1996.

Depoimento: Ary de Arruda Veiga

"Eu conhecia muito o pessoal do Correio Popular e também do Diário do Povo: Mário Erbolato, o Luso Ventura. Eu datilografei a ata da primeira reunião e fui entregar pessoalmente ao Luso Ventura, jornalista e redator. Então ele me disse: "Ary, você acredita mesmo que desta vez sai a Faculdade de Medicina?" Eu falei: "Ah! Não há dúvida nenhuma". Ele falou: "Porque eu, como jornalista de Campinas, já venho lutando há mais de 12 anos por isso." Eu respondi: "Mas olha Luso, pelo que eu assisti lá naquela reunião, a vontade é enorme. Eu acho que, sem dúvida nenhuma, vai sair com certeza."

Utilizavam-se das rádios de Campinas, de São Paulo e até da televisão, por meio de representantes ilustres, demonstrando a necessidade de novas faculdades de ensino e de pesquisa para Campinas, principalmente medicina.

A instituição de grupos de trabalhos, achei que foi uma coisa excelente. Os grupos de trabalhos iam até as estações de rádio. Todo mundo se movimentava. E eu, nas minhas cartas, mandava e pedia para a pessoa se manifestar junto ao governador Carvalho Pinto e pedia para eles mandarem uma cópia para mim. Alguns mandaram

Trechos do depoimento de Ary de Arruda Veiga, concedido ao Arquivo Central da Unicamp em 7 de outubro de 1996.

Fonte: PORTAL DA UNICAMP