O
Globo On Line
Trecho
do texto 'Thomas Mann e o Brasil'
A
MÃE DOS IRMÃOS MANN, d. Júlia Bruhn da Silva,
que faleceu em 1922, com 70 anos de idade, era filha de um alemão
que possuía no Brasil uma fazenda e que se casara com uma
crioula, provavelmente de sangue português e indígena.
Aos seis ou sete anos foi trazida por seu pai a Lübeck, onde
teria melhores possibilidades de uma educação e
de uma instrução exemplares. A futura Frau Júlia
Mann nunca se esqueceu de sua infância no Brasil (...) A
essa mistura de sangues, que influi acentuadamente em seu aspecto
físico, deve Thomas Mann, provavelmente, algumas das suas
qualidades mais raras de escritor, certa feição
característica, que o distingue bastante no conjunto da
moderna literatura alemã.Ainda neste ponto, o autor de
Os Buddenbrook confirmou minha suposição.
Sim, creio que a essa origem latina e brasileira devo certa clareza
de estilo e, para dizer como os críticos, um temperamento
pouco germânico. Li apaixonadamente os clássicos
alemães, os escritores franceses e russos e, especialmente,
os ingleses, mas estou certo de que a influência mais decisiva
sobre minha obra resulta do sangue brasileiro que herdei de minha
mãe. Penso que nunca será demais acentuar essa influência
quando se critique a minha obra ou a de meu irmão Heinrich.
Creio que sobretudo a sua repliquei. O autor de Der
Untertan (O súdito) parece-me mais próximo
da média dos autores alemães e, desde seu aspecto
físico, creio que tem pouca coisa de latino. Penso
ao contrário. Não sei se porque me habituei a descobrir
certa semelhança vaga entre sua fisionomia e a de Anatole
France. De qualquer modo, acho essencial para a compreensão
de nossas obras tão diversas o conhecimento dessa origem
brasileira. A curiosidade pelo Brasil e pelos assuntos brasileiros
fará com que um dia próximo visite o vosso país,
onde desejo reviver as impressões de infância de
minha mãe. É uma velha aspiração que
penso realizar o mais brevemente possível. Dou grande significação
aos traços que deixou em minha obra a origem brasileira
de minha família materna e ainda há pouco comprometi-me
com a revista Duco, órgão de aproximação
teuto-brasileira, a escrever um artigo a respeito; infelizmente
terei de adiar por alguns dias esse compromisso, até que
encontre o necessário repouso de espírito
Trecho do texto Thomas Mann e o Brasil, de Sérgio
Buarque de Holanda, publicado em O Jornal, em 16 de
janeiro de 1930
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FONTE:
O Globo On Line - Segundo Caderno
- 13/07/2002
-
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