Artigo: “Açúcar e Café: ambiguidade de Raízes do Brasil” (Revista Lua Nova – revista de cultura e política: “A Democracia Necessária”, ed. 133)
Discutir a dimensão política e impactos de “Raízes do Brasil”, primeira obra do ensaísta e historiador Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982), sob o ponto de vista da sociologia, considerando a origem social e geográfica do autor. Esse foi o objetivo central da pesquisadora Monica Isabel de Moraes, do Departamento de Sociologia da FFLCH/USP, ao escrever, em parceria com seu orientador, professor Luiz Carlos Jackson, o artigo “Açúcar e Café: ambiguidade de Raízes do Brasil”, a edição nº 133, de 2021, que compõe a revista Lua Nova – revista de cultura e política:“A Democracia Necessária”. O periódico, publicado pelo Centro de Estudos de Cultura Contemporânea (Cedec), faz reflexões sobre temas políticos e culturais.
No artigo em questão, que partiu da dissertação de mestrado defendida em 2017, a pesquisadora recompôs, brevemente, a trajetória social e profissional do ensaísta e historiador, sugerindo que SBH, em “Raízes do Brasil”, teria produzido um argumento central com desfecho ambíguo, o que estaria relacionado à sua origem social, familiar e geográfica. “Raízes do Brasil” foi publicado em 1936, como primeiro volume da coleção Documentos Brasileiros, pela Editora José Olympio. Desde então, diversas edições da obra foram publicadas com alterações. Em 1969, em especial, “Raízes do Brasil” ganhou um novo significado e ritmo de publicação, a partir da edição com prefácio de Antonio Candido, crítico literário e professor da USP, que deu à obra uma leitura política, incorporando uma orientação progressista e a favor da democracia no país. “Entender as condições sociais que levaram o autor a produzir a obra, e como ela impactou as noções de Nação e de identidade nacional elaboradas pelo senso comum, são aspectos que compuseram a pesquisa”, explica a socióloga.
Monica realizou pesquisas no AC/SIARQ para redigir a dissertação. Buscou como fonte documental para seus estudos o Fundo Sérgio Buarque de Holanda (Fundo SBH), um dos mais procurados do órgão. Com mais de 2700 documentos, o Fundo conta com o arquivo pessoal do autor, além de rascunhos, esboços e anotações que abrangem sua produção científica. O trabalho foi premiado no ano seguinte, dentro do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, além de ser indicado para prêmios Anpocs (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais) e Capes. A pesquisadora discutiu as origens e possíveis significados das duas edições de “Raízes do Brasil”, datadas de 1936 e 1948, recompondo a trajetória social e intelectual do ensaísta, períodos de recepção crítica do livro e confrontação das duas edições. “As mudanças realizadas por SBH precisam ser compreendidas também a partir de transformações históricas de grande impacto ocorridas entre as publicações das edições, como contextos de pós-guerra e de democratização”. A obra sedimenta a ambivalência da origem social e geográfica do autor, entre burguesia e oligarquia, entre Nordeste e Sudeste, entre dois modos distintos de refletir sobre nossa formação histórica e social e as possibilidades de transformação.
Tese busca analisar a formação de SBH como historiador
Sob orientação do professor Luiz Carlos Jackson, Monica está atualmente na fase de redação de sua tese de doutorado, também sobre SBH. “Por meio dos documentos do AC/SIARQ, foi possível observar, por exemplo, relações com outros estudiosos de sua época. No caso específico desta tese, as dezenas de cartas trocadas com o bibliófilo Rubens Borba de Moraes têm sido fundamentais para compreender o estímulo que Sérgio recebeu para adentrar, de fato, no campo da historiografia, a partir da década de 1940”, comenta Monica. A pesquisa, por meio de três obras de SBH, “Monções” (1945), “Caminhos e Fronteiras” (1957) e “Visão do Paraíso” (1959), busca compreender a constituição de SBH como historiador, a partir de seu retorno à cidade de São Paulo e ingresso como professor da USP. Ali passou a trabalhar com método de pesquisa histórico e acadêmico, o que não acontecia em sua fase como ensaísta.