A crítica literária de Roberto Schwarz

A obra do crítico literário e sociólogo Roberto Schwarz foi tema da tese do jornalista e doutor em Letras Maurício Reimberg, defendida em 2019 no Programa de Pós-Graduação em Teoria Literária e Literatura Comparada da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP). Schwarz, um dos principais intérpretes do romance de Machado de Assis, foi professor de Teoria Literária na USP e, posteriormente, na Unicamp, por onde se aposentou em 1992, mas seguiu como colaborador até 1997.

Embora tenha focado seus estudos na fase inicial de trabalho de Schwarz, isto é, os ensaios entre 1958 e 1968, Reimberg também recorreu ao acervo histórico do AC/SIARQ, onde teve acesso ao memorial do professor, plano de trabalho e relatórios de pesquisa. Um dos documentos que contribuíram para a análise do pesquisador foi o projeto de pesquisa apresentado à Unicamp por Schwarz em 1977. Naquele ano, logo após voltar do exílio na França, ele foi indicado pelo seu colega e mestre Antonio Candido para a função de professor no Departamento de Teoria Literária do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL). “Esse material consultado lança as bases da parte final do ciclo machadiano de Schwarz, que se apresenta em Um mestre na periferia do capitalismo (1990)”.

Em seus estudos, Reimberg conta que, no início de carreira, Schwarz tinha o modelo europeu como referência de romance realista. De modo geral, o gênero se construía a partir de indivíduos fortes, autônomos e que venciam obstáculos para conseguir sucesso na sociedade burguesa, a exemplo do clássico Ilusões Perdidas, de Balzac. Quando se voltava para as obras brasileiras, Schwarz não reconhecia essa mesma complexidade social nos romances. “Isso começa a mudar, sobretudo, a partir de 1964, quando ele começa a entender como um romance realista brasileiro teria que passar pela invenção de novas categorias. É o caso do narrador ‘volúvel’ machadiano, que seria reinterpretado pelo crítico”, analisa. “Naquele momento, Schwarz fazia parte de um amplo esforço interdisciplinar que buscava conceituar a experiência social brasileira e suas especificidades. No seu caso, porém, não se trata de vincular Machado apenas ao Brasil. Através do Brasil, Machado fala do mundo. E é essa demonstração literária que faz dele um grande crítico”, afirma Reimberg. “A pesquisa no AC/SIARQ me ajudou a acompanhar essa formação da obra de Schwarz”.

Arte Publi GlebWataghin