O Dia Internacional de Preservação Digital, celebrado em 4 de novembro, marcou a realização do Fórum Permanente "Repositório Arquivístico Digital Confiável: uso institucional de arquivos e centros de documentação da Unicamp", evento realizado pela Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (ProEC), em formato online. Participantes compartilharam experiências e reflexões sobre potencialidades e desafios para a implantação de políticas e ferramentas tecnológicas para repositórios institucionais de documentos digitais confiáveis. O encontro também apresentou uma prévia do ReDiSAP (Repositório Digital de Documentos Arquivísticos Permanentes e Sistema Informatizado de Acervos Permanentes da Unicamp), plataforma que deve ser lançada em 2022 para todos os usuários.
O evento foi organizado pelo grupo de trabalho do ReDiSAP, por meio de parceria entre Arquivo Central do Sistema de Arquivos (SIARQ/CGU), Arquivo Edgard Leuenroth do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (AEL/IFCH), Centro de Documentação Alexandre Eulálio do Instituto de Estudos da Linguagem (CEDAE/IEL), Centro de Lógica e Epistemologia da Ciência (CLE/COCEN), Centro de Memória da Unicamp (CMU/COCEN) e Centro de Memória e Arquivo da Faculdade de Ciências Médicas (CMA/FCM). Composto por três sessões, o encontro foi moderado por Andressa Piconi, diretora da área de Tecnologia da Informação do AC/SIARQ.
Ao saudar o público, Janaína Andiara dos Santos, coordenadora do AC/SIARQ, afirmou que a proposta do evento foi elaborada dentro do contexto de criação do repositório da Unicamp e de esforços gerais de preservação digital das instituições brasileiras nos últimos anos. “É fundamental dialogarmos sobre capacitação e desafios, tanto sob o ponto de vista técnico como de políticas públicas”, enfatizou. José Luiz Costa, assessor da ProEC, também participou da mesa de abertura. Segundo o professor, a questão dos repositórios arquivísticos é “mais um exemplo de tema relevante em pauta, em um período em que acesso e produção de documentos nas instituições tiveram que ser revisitados por conta do trabalho remoto”.
RDC-Arq: segurança para o acesso a informações e preservação de memória
Na conferência de abertura, Daniel Flores, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), explorou conceitos e funcionalidades de um Repositório Arquivístico Digital Confiável (RDC-Arq). As observações vieram a partir de pesquisas realizadas na UFF sobre as soluções de RDC-Arq utilizadas em softwares livres e levando-se em conta resoluções e normativas de arquivo. De acordo com o professor, um exemplo de mudança que o uso integrado de sistemas como Archivematica e AtoM possibilita é de que a guarda de documentos permanentes pode ser feita em um único local e não mais em diversas mídias externas. “Também pontuo o fim da intervenção manual nos diversos suportes por parte do arquivista. Profissionais devem focar, neste momento, na elaboração, implementação e supervisão das políticas arquivísticas”, explica Flores.
Dessa forma, o ambiente de preservação dos documentos se situa fora da web em um constante fluxo de dados, mas o espaço de pesquisa pelos usuários é acessado pela internet, garantindo transparência e segurança aos cidadãos. Em termos institucionais, como é o caso de uma universidade, a sugestão é uma plataforma centralizada, mas com várias submissões nos locais de custódia e gestão interdisciplinar e contínua, que garanta a longevidade do sistema e o estímulo à memória. “Profissionais de arquivo e de tecnologia da informação devem estar completamente alinhados na administração desse ambiente holístico, que está em constante atualização e com foco nos direitos do cidadão, a exemplo da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), em vigor desde agosto de 2020”, destaca o professor.
Em fase de homologação, interface do ReDiSAP foi apresentada no Fórum
Desde outubro deste ano, o grupo de trabalho responsável pela implantação do ReDiSAP na Unicamp, formado por representantes dos centros de documentação e arquivos, está institucionalizado na Universidade, por meio de Portaria do Gabinete do Reitor. Humberto Celeste Innarelli, diretor de serviços do AEL/IFCH, apresentou um breve histórico de trabalhos integrados, que começaram no fim dos anos 1990. Com a evolução da arquivologia digital, sistemas unificados de arquivos foram criados na Universidade, a partir de ações em rede. O início das discussões sobre o ReDiSAP foi em 2015. Atualmente, o sistema, instalado, configurado e customizado por profissionais da própria instituição, está na fase de homologação e estará disponível aos usuários no próximo ano.
Representantes do grupo fizeram demonstrações de acesso e funcionalidades da plataforma. Roberta de Moura Botelho, diretora técnica do CEDAE/IEL, abordou exemplos de descrições arquivísticas, assim como a possibilidade de pesquisas avançadas. Eliane Morelli Abrahão, historiadora e responsável pelos Arquivos Históricos do CLE/COCEN, também sugeriu a busca de pesquisadores dedicados ao CLE e seus documentos históricos em diferentes suportes. A coordenadora do CMA/FCM, Rosana Evangelista Poderoso, apresentou parte do Fundo Bernardo Beiguelman, um dos mais procurados na área da saúde da Unicamp, já inserido na plataforma. André Luiz Paulilo, diretor do CMU/COCEN, reforçou o desafio do trabalho em conjunto na construção de protocolos internos homogêneos para o repositório, qualificação de equipe, inserção da tecnologia da informação nos processos e sincronia das ações.
A coordenadora do AC/SIARQ, Janaína Santos, retomou desafios enfrentados pelas equipes em experiências anteriores, como o processo de migração para os sistemas e a necessidade de padronização de ações entre os órgãos participantes. As perspectivas, de acordo com Janaína, devem incluir articulação política para reforço de estrutura e normativas que apoiem a preservação digital. “Temos pela frente a integração desse sistema com outros já existentes na instituição, assim como a criação de normativas que também integrem outras. Sugerimos um programa amplo que trate, por exemplo, da tecnologia da informação neste contexto, alinhado aos trabalhos de transparência e gestão de dados realizados na instituição. Por isso mesmo, o caminho é lançar a plataforma e, junto com ela, uma proposta de governança e gestão do repositório junto à administração da Unicamp”, explica.
Interface de acesso à plataforma do ReDiSAP da Unicamp, atualmente em fase de homologação
“Preservação Digital é uma questão cultural”, afirma Thiago Nicodemo
Thiago Nicodemo, coordenador do Arquivo Público do Estado de São Paulo (Apesp), ministrou a conferência de encerramento, com o tema “políticas institucionais de preservação de documentos digitais”. Conhecedor de diversos acervos da Unicamp enquanto pesquisador, reforçou seu entusiasmo com a integração das iniciativas de preservação digital na Universidade. Por meio de um recorte histórico do tema no Brasil, o historiador despertou reflexões sobre conceitos e práticas de preservação. “Gestão de documentos e acesso sempre estiveram ligados à ideia de democracia. No nosso país, o avanço reverberou com a Constituição de 1988. Ao longo do tempo, outros momentos da história reforçaram valores como a transparência, mas a construção dessa prática enfrenta muitos desafios”. Nicodemo ressaltou a importância de políticas articuladas para a avaliação e eliminação e preservação de documentos em ambiente digital. “A gestão unificada de dados na Universidade pode garantir o acesso e a preservação dos documentos de atividades meio e fim”.
Ao apresentar algumas estratégias de preservação do Apesp, inclusive advindas no período de pandemia e do consequente aumento de dados produzidos em âmbito digital, Nicodemo reforçou o caráter cultural das iniciativas. “Preservação digital é um modo de produzir e pensar o conhecimento que está sendo oferecido aos cidadãos. Como conceito e prática, é um profícuo campo de pesquisa dentro das universidades”, concluiu.
Nas próximas semanas, o evento estará disponível na íntegra pelo canal do Youtube dos Fóruns Permanentes.
Confira fotos da abertura e das duas conferências do evento: